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Morro da Garça
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Logo nos
primeiros dias de vida, fui morar no campo com meus pais, em um sítio. Foi o
melhor da minha vida porque estive ao lado dos meus pais, e irmãos e era só
farra. Andava de cavalo, de carro- de- boi, charrete, nadava no rio, pescava,
passeava pelos matos e vizinhança, ajudava meu pai a plantar, milho, feijão,
arroz, cana-de-açúcar, mandioca, banana, também ajudei a limpar as plantações
de enxada, roçava o pasto com uma foice, e cortava lenha com machado para a
fornalha. Já corri muitas vezes de vaca brava, quando ia prender os bezerros à
tarde no curral, para no outro dia pela manhã meu pai tirar o leite. O leite um
pouco era desnatado para fazer manteiga, ou fazia queijo, ou doce de leite , e
o restante era vendido na cidade para poder pagar as despesas da casa. Lembro
também das carreiras atrás de um frango, quando minha mãe pedia para pegar que
ia fazer para o almoço, se o cachorro não fosse bom para catar, os meninos
que tinha de fazer este trabalho. Quando matava um porco para guardar a carne,
a minha mãe colocava sobre a cabeça uma bacia cheia do intestino do bicho, e
pedia para eu ir com ela até o córrego para limpar. Na colheita da mandioca era
bom, porque fazia farinha na casa de uma vizinha, e aí tinha de descascar toda
a mandioca, depois ralava na máquina, com um cavalo puxando para moer, em
seguida era torrada a massa da mandioca no fogão a lenha, e ai que vinha a
coisa boa, saia um belo de um café quente acompanhado de beiju de mandioca. Na
colheita do milho, ajudava sempre a minha mãe, a fazer pamonha doce, e mingau
de milho; Também tinha milho cozido ou assado. Tinha dois irmãos, o mais velho,
era o companheiro de jogar bola, pescar, e lidar com os bichos, tenho muita saudade
dele, o mais novo era pequeno e muito magro, mas gostava de dar palpite em
tudo, não podia escutar uma conversa que ele encostava para dar o recado, este
hoje é meu vizinho em São Paulo, e estou sempre com ele. E minha irmã mais
velha que foi minha companheira estava sempre presente em tudo que já citei
aqui, e que muitas vezes pegamos chuva juntos, indo da cidade para o sítio de
carroça, de carro-de-boi, de cavalo, hoje moramos longe um do outro mas sempre
nos falamos. Nosso sítio foi de minha avó paterna, e já faz muitos anos que
pertence a nossa família. O sítio fica próximo do Morro-da-Garça, que é uma
pequena cidade vizinha. No Morro-da-Garça, é onde acontece todos os anos uma
festa dos produtores rurais, com uma variedade de comida típica mineira, venda
de produtos agrícolas, apresentações musicais sertanejas, locais e também
atrações com cantores famosos; Mais o ponto alto desta festa é o desfile de
carro-de-boi, com carros-de-boi com até dez bois puxando o carro, todos
enfeitados, e aí é uma disputa pra valer para saber qual é o carro mais bonito,
com direito até da garota mais bonita da região ser a rainha da festa. Este é o
lugar certo para desfrutar a natureza e curtir a vida. "Espere
minha mãe estou voltando, que falta faz pra mim um beijo seu, o orvalho das
manhãs cobrindo as flores, e um raio de luar que era tão meu, o sonho de
grandeza, ó mãe querida, um dia separou você e eu, queria tanto ser alguém na
vida, apenas sou mais um que se perdeu, Pegue a viola, e a sanfona que eu
tocava, deixe um bule de café em cima do fogão, fogão de lenha, e uma rede na
varanda, arrume tudo mãe querida, o seu filho vai voltar, mãe eu lembro tanto a
nossa casa, as coisas que falou quando eu saí, lembro do meu pai que ficou
triste, e nunca mais cantou depois que eu parti, hoje eu já sei, ó mãe querida,
nas lições da vida eu aprendi, o que eu vim procurar aqui distante, eu sempre
tive tudo e tudo esta ai" (música de: Carlos Colla, Mauricio Duboc e
Xororó).